sexta-feira, 17 de julho de 2020

Entre uma tragada e outra eu me perco nas lembranças do que vivi nos últimos anos. É como a névoa. Ela está aqui, eu a vejo, mas de tão fluida ela é intocável. Eu consigo lembrar todos os momentos, eu guardo principalmente os felizes. Consigo lembrar todos os rostos sorrindo e vivendo junto comigo. Eu consigo lembrar cada frio na barriga, cada excitação, cada abraço apertado. As lembranças estão todas na minha memória. Mas nesse momento me parecem tão fluidas e intocáveis que, mesmo sabendo que são reais, eu não posso tocar, não parecem sólidas. Não tem contato. Até consigo sentir o calor de cada momento que vivi, mas agora aqui é inverno e tudo está tão quieto. O passado parece tão distante e o futuro tão incerto. Eu vou ter que começar sozinha, construir e me reconstruir a partir do que eu sou agora. Não encaro isso de maneira negativa, porque sei e sinto o poder disso tudo que me inclui. Eu sei também que sozinha não é no sentido literal da palavra, eu tenho o coração cheio e muitas mãos pra segurar sempre. Mas me incomoda a possibilidade de permanecer nesse estado de ausência por muito mais tempo. De me ver num lugar em que as mãos e os sorrisos sejam tão intocáveis quanto a névoa que me cerca.

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