Ver as pessoas indo embora e não
levando consigo nem sequer um pedaço meu, me faz questionar a importância que
adquiro na vida daqueles com quem crio laços e divido momentos. Se vão e nem
sequer demonstram lamentar o laço rompido. Nem ao menos olham pra trás,
enquanto eu fico aqui parada com os cacos na mão, sem saber o que fazer com
eles. Houve laços que eu mesma precisei cortar, desfazer nós que só me
sufocavam e prendiam. Depois de muito gritar a distância que estavam criando,
eu precisei dar o passo final, na tentativa de acabar com a agonia e o
sofrimento que me causavam. Enquanto eu tento me reconstruir após ruir, afirmo
que superei e que isso não tem mais o poder de me machucar. Eu afirmo em voz
alta pra quem ouve meu desabafo. Será que quem ouve também vê que falta verdade
no que digo? Que, por mais que eu levante a cabeça e diga que estou seguindo em
frente, quando quem se foi me acena de longe eu volto a ter esperanças e me
despedaço novamente? Tem dias que acordo determinada e com a certeza de que
quem se foi, aqui não está porque não cabe mais. Eu abro as janelas pra deixar
outras pessoas entrarem, mas parece que eu esfriei. Eu desaprendi a criar novos
laços porque os antigos ainda me prendem. Eu tento soltar mas sempre ficam os
vestígios gigantescos da dor que me causaram. Tudo que eu quero é conseguir
valorizar e demonstrar o amor por aqueles que ainda estão comigo, até mesmo por
aqueles que estão chegando. Meu maior medo é causar nos meus próximos o
sentimento de desvalorização que a mim causaram. Eu não quero me deixar esfriar
a ponto de não conseguir mais aquecer quem está junto de mim. Eu desejo ser
chama e não gelo. Mas e se, por justamente ser chama, eu acabe queimando e
afastando? Como eu sei que não foi por isso que outros se foram?
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