quarta-feira, 18 de março de 2020

Era final de tarde e a chuva caía com contraste do céu. Eu parei no meio da rua e me vi em meio a uma multidão que nada acolhia e muito sufocava. Eu parei porque, depois de muitos dias bloqueando qualquer pensamento triste que quisesse vir a tona, de repente a enxurrada de sentimentos chegou com a chuva gelada. O que perdi nos últimos meses e toda a dor que eu bloqueei chegaram e me estagnaram naquela calçada chuvosa e escura.
 Hoje a  saudade veio carregada diretamente pro meu peito. E isso pesa a ponto de me fazer bambear. Eu queria um canto acolhedor, qualquer lugar que eu pudesse encostar minha cabeça e repousar o cansaço. Me despir do cansaço que foi levar nas costas todas as coisas que eu precisava sentir mas escondi de mim mesma. Eu achava que podia passar por isso sem deixar tomar conta e apostei no modo automático que eu sempre soube não funcionar para mim. Nessa de evitar sentir a dor, entrei em guerra comigo mesma e ela se tornou uma arma imbatível.
 Eu queria o aconchego que jamais encontrarei nessa cidade e nessas pessoas que me cercam. Me obrigo a entrar no ônibus e encarar os olhares descontentes com minha roupa encharcada da chuva. Eu não ligo. Os sentimentos que agora estão aqui me pesam tanto que é impossível qualquer outra comoção.

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