domingo, 9 de outubro de 2016

Poderíamos dormir esse incômodo,
no deixar aos seres mágicos o arrumar dessa bagunça,
as contas que não fecham, 
parece só faltam uns ajustes,
mas preocupam demais.
Fecharíamos pesado o sono de nossa impotência,
esse cansaço de sermos humanos,
enquanto se inventam as vacinas, as máquinas, as fórmulas novas,
enquanto descobrem novos planetas, outros minerais, 
enquanto fazem outros jeitos de sermos humanos,
enquanto a natureza se regenera, poderíamos dormir,
a uma próxima estação mais fértil
- pode ser as máquinas já tenham dominado o mundo,
e seremos seus escravos,
só, talvez, sejam mais gentis -
mas certo que ali,
depois do sono,
estaria uma primavera de mundo,
de tolerância consistente como o óbvio,
num deixar mais fácil a existência,
e o dinheiro seria menos sujo - ou uma relíquia de colecionadores -
as paixões mais literárias, 
as cores mais democráticas, 
e nem será preciso sonhar, 
pois fosse um hábito dos povos antigos, de épocas sombrias,
na graça de uma permanente vigília,
em que estaremos juntos sempre bem,
e até o sorriso tenha ficado ao tempo dos contrastes,
gesto longínquo como as raivas, 
a pairar uma desconfiança crescente:
- Não estaremos, ainda, dormindo?

{Adriano Dias}

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