quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Vê, meu bem, a vida é assim: constante. Nem na morte a vida para. Paralisa para quem perdeu alguém, mas não para o mundo. Hoje, uma menina chegou chorando na sala de aula dizendo que não poderia fazer a prova devido a morte de dois amigos num acidente — sabe o que a gente fez? Nada. Absolutamente nada. Sucedeu um ataque de compaixão durante cinco minutos; ficamos sim, apavorados talvez, mas nada mais que isto. A vida não se padece pela morte. A vida se padece pela vida em si. Talvez não exista um fim para este ciclo. Talvez, até seja como os pessimistas pregam: “a vida sempre será destruidora enquanto vivermos: somos nós que assassinamos a nossa própria existência.” vê, meu bem, estou chorando de novo. Eu sei que você me mandou não mais chorar, que o mundo é um circo de falsidade. Mas não tem jeito: eu choro. Choro pequenas gotas de sangue. Sangue derramado por estes jovens inocentes que morreram — na verdade, não só por eles, mas para todos aqueles que vivem uma existência grandioso e desaparecem ao morrer. Como pode alguém sumir da memória de um outro assim, simplesmente? Meu bem, não entendo direito mais esta complexidade de sentimentos que nos cercam. Observo as estrelas todo santo dia e vejo as lágrimas delas ao enxergarem o deslocamento desta humanidade: do paraíso ao inferno. Muitos falam que a vida é incoerente, que vivemos um pouco da felicidade e um pouco da tristeza, mas me questiono sobre esta felicidade. Faço-me acreditar que existe um equilíbrio entre ambos, mas não há. Não é possível que em toda uma existência choramos e por um breve momento sorrimos. Isto não é equilíbrio. Chorar dói, meu bem. Ter saudades de algo que não irá voltar, de um alguém que não irá mais afogar os teus medos dentro de si próprio, machuca. Arde toda esta melancolia que, de agora, me jorra. Sei que pareço não entender o complexo funcionamento do existir. Sei que pareço ser uma criança que não quer aceitar a realidade em que vives. Mas, sei lá. Eu sempre acreditei que a vida fosse menos cinza. Sempre acreditei que mesmo neste martírio que chamamos de vida, houvesse a paz de um sorriso com dentes tortos. Sempre acreditei na perpetuação do fim — um fim feliz.

{Augusto Soares}

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