sexta-feira, 21 de dezembro de 2012


Uma mãe gritou:
- Cale-se, John! Está tarde, vá dormir.
E ele não foi.
Mas se calou. 

Braços de alcance curto, contrários aos sonhos, envolviam os joelhos franzinos do menino maestro que ritmava um lamento censurado. Que ritmava tudo. Qualquer rufião poderia pegar um banjo e farrear noite adentro, dedilhos brutos em ruídos de escultura tosca.

Era preciso genialidade para cantar em silêncio.
E ele cantou.

Cresceu e fez da vida o que todos sabem; saber oriundo não de pesquisas, mas da influência direta em todos os vivos. Galopou em glória numa Cruzada que não espalhava palavras religiosas até qualquer Terra dita Santa, mas música a qualquer recôndito, sagrado ou profano. Antes de bons ou maus, faziam-se ouvintes.

Era preciso coragem para desbravar o mundo.
E ele desbravou.

Os ponteiros do relógio giraram. Qual meliantes de passos sinuosos, furtaram do prado o vento; dos homens, o tempo. Um a um, calaram a todos. 

Chegou o dia em que disseram:
- Cale-se você também, John. A hora chegou, vá dormir.
E ele foi.
Mas jamais se calou.

(Em homenagem a Jhon Lennon que esse mês completou 32 anos dormindo, porém jamais calado.)

~Frederico Brison~

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