quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

O céu de 1980 é escuro como uma fumaça de padaria e só eu tenho observado isso. Na verdade, tenho observado várias coisas, como que os pássaros perderam a vontade de voar e as flores perderam a vontade de se abrir. Em 1980 estão todos murchos, fracos e insolentes. Estamos vivendo uma época triste com uma face que se diz satisfeita com isso. Estamos vivendo uma mentira e a sustentamos por que é melhor vivê-la do que parar na realidade, e a realidade é que todos procuramos amenizar esse triunfo de ”estamos felizes.” Estamos mesmo? Ou está certa a teoria que o ser humano mente para se sentir bem? Ou para que os outros se sintam? O que realmente somos em 1980? E daqui pra frente? O que seremos? Quem serão nossos filhos? Sucessores da nossa solidão? Apenas "crias” nossas que existem para focar em uma única coisa, "estudar, arranjar um emprego e ter sexo vazio com alguém vazio”. Onde estão as esperanças? As promessas que ficaram entre a virada do ano? "Vamos mudar para melhor” pois eu lhes digo, vocês não mudaram nada. Vocês não mudaram o jeito de pensar, o andar de vocês é sempre o mesmo, vocês correm, andam depressa para ter algo e esquecem de viver. Procuram tanto a felicidade mas tem um vagão dentro do coração, e não há ano que mude isso. Vão se passar décadas e os pensamentos serão os mesmos, pessoas diferentes, correndo contra o tempo à procura de algo que as complete. Seria dinheiro? Felicidade? Amor? Ódio? Confiança? Conforto? Nem elas saberão.


{Alice, 1980}

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